Maria
Teresa Eglér Mantoan
Faculdade
de Educação – Unicamp
Caro
(a) Professor (a):
A inclusão tem nos preocupado
bastante, não é mesmo? Cada um diz uma coisa. Ora são os pais, ora os
especialistas, ora os médicos, além da televisão, dos congressos, cursos, dos
livros em geral, que nos afligem, despencando nas nossas cabeças todas as
responsabilidades por uma virada do avesso das escolas. A gente fica
desnorteado(a) com tantas idéias, argumentos,novidades.
E quase sempre sobra para a sala de
aula, para o(a) professor(a) a parte mais difícil, não é mesmo? Mudar as
práticas, escolares, aprendidas com tanto custo, é um desafio daqueles...
Muitos acham que os(as)
professores(as) são resistentes, acomodados(as), apegados(as) aos velhos
hábitos de trabalho. Seriam mesmo?
Teste, então, o seu poder de
inclusão! Faça um check up inclusivo. O exame é simples, despretensioso, mas
poderá ser útil, e alertar para o risco que se corre de contaminar outros colegas
com o vírus da exclusão, que parece ser endêmico em nossas escolas.
Os sintomas que denunciam esse
estado doentio de muitos de nós são:
•
febre e outros distúrbios que denotam um combate a tudo o que é novo e
invade
a sala de aula e a maneira conservadora de atuar nela;
•
arrepios ao pensar que é preciso mudar nossas atitudes diante das diferenças;
•
congestão de práticas especializadas;
•
dores de cabeça para diversificar o ensino; problemas de coluna ao carregar o
peso de mais alunos (e com problemas bem mais graves do que os habituais...);
•
mal-estar de estômago, ao ouvir o que a inclusão acarreta de novidades na
avaliação da aprendizagem;
•
um cansaço generalizado advindo da participação nos encontros de formação sobre
inclusão;
•
outros sintomas derivados desses todos e que dependem do estado de saúde
educacional e do estado do sistema imunológico de cada um, para enfrentar o
referido vírus!
Para
esse breve exame, as regras são:
1.
Coloque-se na condição dos professores(as) que aqui apresentaremos;
2.
Escolha a alternativa que você adotaria em cada caso, mas sem pensar muito,
respondendo com o que vem mais rápido à cabeça.
3.
Descubra e aprenda mais sobre si mesmo(a).
Responda
às questões e confira:
1)
A professora Sueli procura incluir um aluno com deficiência mental em sua turma
de 1ª série. Tudo caminha bem, em relação à socialização desse educando, mas
diante dos demais colegas, o atraso intelectual desse aluno é bastante
significativo. Neste caso, como você resolveria a situação?
(A)
- Encaminharia o aluno para o atendimento educacional especializado oferecido
pela escola?
(B)
- Solicitaria a presença de um professor auxiliar para acompanhar o aluno em
sala de aula?
(C)
- Esperaria um tempo para verificar se o aluno tem condições de se adaptar ao
ritmo da classe ou precisaria de uma escola ou classe especial?
2)
Júlia é uma professora de escola pública. Já faz quatro anos que leciona na 2ª
série. Há um
fato
que a preocupa muito atualmente: o que fazer com alguns de seus alunos, que
estão fazendo pela terceira vez aquela série? Para acabar com suas
preocupações, qual seria a melhor opção?
(A)
- Encaminhá-los a uma sala de alunos repetentes, para serem mais bem atendidos
e menos discriminados?
(B)
- Propor à direção da escola que esses alunos sejam distribuídos entre as
outras turmas de 2ª série, formada por alunos mais atrasados?
(C)
- Reunir-se com os professores e a diretora da escola e sugerir que esses
alunos se transfiram para turmas da mesma faixa etária, até mesmo para as
classes de Educação de Jovens e Adultos (EJA), caso algum já esteja fora da
idade própria do Ensino Fundamental?
3)
Cecília é uma adolescente com deficiência mental associada a comprometimentos
físicos, que está freqüentando uma turma de 3ª série do Ensino Fundamental, na
qual a maioria de seus colegas é bem mais nova do que ela. A professora
percebeu que Cecília está desinteressada pela escola e muito apática. Qual a
melhor saída, na sua opinião, para resolver este caso?
(A)
- Chamar os pais da aluna e relatar o que está acontecendo, sugerindo-lhes que
procurem um psicólogo para resolver o seu problema?
(B)
- Avaliar a proposta de trabalho desta série, em busca de novas alternativas
pedagógicas?
(C)
- Concluir que a aluna precisa de outra turma, pois a sua condição física e
problemas psicológicos prejudicam o andamento escolar dos demais colegas?
4)
Numa 2ª série de Ensino Fundamental, em que há alunos com deficiência mental e
outros alunos com dificuldades de aprendizagem por outros motivos, o professor
está ensinando operações aritméticas. Mas estes alunos não conseguem acompanhar
o restante da turma na aprendizagem do conteúdo proposto. O que você faria, se
estivesse no lugar desse professor?
(A)
- Reuniria esse grupo de alunos e lhes proporia as atividades facilitadas do
currículo adaptado de Matemática?
(B)
- Distribuiria os alunos entre os grupos formados pelos demais colegas e
trabalharia com todos, de acordo com suas possibilidades de aprendizagem?
(C)
- Aproveitaria o momento das atividades referentes a esse conteúdo para que
esses alunos colocassem em dia outras matérias do currículo, com o apoio da
estagiária ou da professora de apoio?
5)
Fábio é um aluno com autismo que freqüenta uma sala de aula da 3ª série. É o
seu primeiro ano em uma escola comum e ele incomoda seus colegas, perambulando
pela sala e interferindo no trabalho dos grupos. Que decisões você tomaria para
resolver a situação, caso fosse a professora desse grupo?
(A)
- Solicitaria à direção da escola que retirasse Fábio de sua sala, pois o seu
comportamento está atrapalhando o bom andamento da classe e o desempenho dos
demais alunos?
(B)
- Marcaria uma reunião com o coordenador da escola e solicitaria uma avaliação
e o encaminhamento desse aluno para uma classe ou para uma escola especial?
(C)
- Reuniria os alunos e proporia um trabalho conjunto em que todos se
comprometeriam a manter um clima de relacionamento cooperativo na sala de aula?
6)
Guilherme é uma criança que a escola chama de “hiperativa”. Ele gosta muito de
folhear livros de histórias. Ocorre que freqüentemente rasga e/ou suja as
páginas dos livros, ao manuseá-los sem o devido cuidado. O que você lhe diria, caso fosse sua
professora?
(A)
- “Hoje você não irá ao recreio, porque rasgou e sujou mais um livro”.
(B)
- “Vou ajudá-lo a consertar o livro, para que você e seus colegas possam ler
esta linda história”.
(C)
- “Agora você vai ficar sentado nesta mesinha, pensando no que acabou de
fazer”.
7)
Norma é professora de uma 4ª série de Ensino Fundamental e acabou de receber um
aluno cego em sua turma. Ela não o conhece bem, ainda. No recreio, propõe à
turma um jogo de queimada. É nesse momento que surge o problema: O que fazer
com Paulo, o menino cego? Arrisque uma “solução inclusiva” para este caso.
(A)
- Oferecer-lhe uma outra atividade, enquanto os demais jogam queimada, fazendo-o
entender o risco a que esta atividade o expõe e a responsabilidade da
professora pela segurança e integridade de todos os seus alunos?
(B)
- Perguntar ao aluno quais os jogos e esportes dos quais ele tem participado e
se ele conhece as regras da queimada.
(C)
- Reunir a turma para resolver a situação, ainda que na escola não exista uma
bola de meia com guizos.
8)
Maria José é professora de escola pública e está às voltas com um aluno de uma
turma de 5ª série, de 12 anos, que é muito agressivo, mal-educado e
desobediente. Ele não se submete à autoridade dos professores nem das demais
pessoas da escola e sempre arruma uma briga com os colegas, dentro da sala de
aula, ameaçando-os com um estilete. O que você faria no lugar dessa professora
aterrorizada?
(A)
- Estabeleceria novas regras de convivência entre todos e, em seguida,
analisaria com a turma os motivos que nos levam a agir com violência?
(B)
- Enfrentaria as brigas, retirando-o da sala de aula e entregando-o à direção
da escola?
(C)
- Tentaria controlar essas situações, exigindo que o menino entregasse o
estilete, para que os demais alunos se acalmassem?
9)
Sérgio é um aluno surdo, com perda total de audição. Ele tem 13 anos de idade e
freqüentou até o momento uma escola de surdos. Este aluno está no seu primeiro
dia de aula, em uma escola comum. O professor, percebendo que Sérgio não fazia
leitura labial, procurou a diretora da escola para questionar a admissão desse
aluno em sua turma, desde que ele não sabe se comunicar em LIBRAS (Língua
Brasileira de Sinais). Se você fosse esse professor, antes de tomar essa
atitude:
(A)
- Chamaria os seus pais e os convenceria de que a escola de surdos era mais
apropriada para as necessidades desse aluno?
(B)
- Procuraria saber quais as obrigações e os direitos desse aluno, para buscar o
recurso adequado à continuidade de seus estudos na escola comum?
(C)
- Providenciaria a presença de um intérprete de LIBRAS, solicitando um convênio
com uma entidade local especializada em pessoas com surdez?
Conte os pontos e confira o seu poder
de inclusão, ou melhor, a sua imunidade ao vírus da exclusão:
2a)
1 b) 2 c) 3
3a)
2 b) 3 c) 1
4a)
1 b) 3 c) 2
5a)
1 b) 2 c) 3
6a)
1 b) 3 c) 2
7a)
1 b) 2 c) 3
8a)
3 b) 1 c) 2
9a)
1 b) 3 c) 2
RESULTADOS:
De 27 a 23 pontos - IMUNE A EXCLUSÃO.
Você
está apto a enfrentar e vencer o vírus da exclusão, pois já entendeu o que
significa uma escola que acolhe as diferenças, sem discriminações de qualquer
tipo. Compreendeu também que a inclusão exige que os professores atualizem suas
práticas pedagógicas para que possam oferecer um ensino de melhor qualidade
para todos os alunos. Parabéns! Não se esqueça, porém, de que o atendimento
educacional especializado deve ser assegurado a todos os alunoscom deficiência,
como uma garantia da inclusão.
De 22 pontos a 16 pontos - NO LIMITE.
VOCÊ PRECISA SE CUIDAR!
Atenção,
você está vivendo uma situação de fragilidade em sua saúde educacional!
Cuidado! É preciso que você tome uma decisão e invista na sua capacidade de se
defender do vírus da exclusão! Quem fica indeciso entre enfrentar o novo, no
caso a inclusão de todas as crianças, nas escolas comuns, ou incluir apenas
alguns, ou seja, os alunos que conseguem acompanhar a maioria – está vivendo um
momento difícil e perigoso. Você está comprometendo a sua capacidade de ensinar
e a possibilidade dos alunos de aprender com alegria!
D e 1 5 a 9 p o n t o s - ALTAMENTE
CONTAMINADO.
Tome
todas as providências para se curar do mal que o vírus da exclusão lhe causou.
Há muitas maneiras de se cuidar, mas a que recomendamos é um tratamento de
choque, porque o estrago é grande! Você precisa, urgentemente, se tratar,
mudando de ares educacionais, tomando injeções de ânimo para adotar novas
maneiras de atuar como professor(a). Outra medicação recomendada é uma
alimentação sadia, no caso, muito estudo, troca de idéias,
experimentações,
ousadia para mudar o seu cardápio pedagógico. Tente colocar em prática o que
tem dado certo com outros que se livraram desse vírus tão voraz e readquira o
seu poder de profissional competente. Boa recuperação!
FONTE: O DESAFIO DAS DIFERENÇAS NAS ESCOLAS
BOLETIM 21 / 2006
p. 13 - 19